Este trabalho apresenta aproximadamente 80 determinações inéditas de idade, pelo método potássio-argônio, realizadas em rochas provenientes de ilhas vulcânicas do Oceano Atlântico Sul. As determinações foram executadas no Centro de Pesquisas Geocronológicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo; o potássio foi analisado por meio de fotometria de chama, e o argônio 40 por diluição isotópica, mediante emprego de traçador de argônio 38. A precisão das análises de .potássio é demonstrada pela reprodutibilidade dos resultados, que apresentam desvio percentual médio de 0,37%. Análises de argônio são em geral reprodutíveis dentro de erro de 2% , com exceção dos casos em que a correção efetuada para argônio 40 atmosférico atinge grandes proporções em relação ac radiogênico existente. O erro experimental total, para a maioria das análises, é da ordem de 3% , sendo poucos ob casos em que a margem de 10% é ultrapassada. No entanto, em 3 casos de rochas extremamente jovens, somente pôde ser determinado o limite superior (idade máxima) de cada amostra. A validade do método foi demonstrada pela concordância dos resultados de análises de rocha total e de minerais separados provenientes das mesmas amostras. Não foram verificadas quantidades substanciais de argônio em excesso, capazes de invalidar os resultados, e somente em alguns casos pôde ser constatada a presença de material contaminante. 37 análises foram efetuadas em 27 rochas da Ilha de Trindade, e 4 outras em 2 rochas dos rochedos de Martin Vaz. Verificou-se que grande parte das rochas h trusivas que pertencem ao Complexo de Trindade (diques básicos e ultrabásicos, além de intrusivas fonolíticas) formaram-se durante ciclo vulcânico que se manifestou entre 2,9 e 2,3 m.a. No entanto, foram obtidos alguns resultados mais antigos, até cerca de 3,6 m.a. , em algumas rochas de dique do mesmo Complexo . As rochas da Seqüência Desejado formaram-se em ciclo próximo a 2,5 m.a. , e para as formações Morro Vermelho, Valado e Vulcão do Paredão, mais recentes, não puderam ser obtidos resultados significativos. Uma das duas amostras dos rochedos de Martin Vaz revelou idade próxima a 60 m.a., totalmente anômala em relação ao conjunto obtido para a ilha vizinha de Trindade. 28 determinações foram efetuadas cm 23 rochas do Arquipélago de Fernando de Noronha. A maioria das intrusões fonolíticas da Formação Remédios apresentou idades próximas de 9 m.a. , e alguns outros corpos intrusivos mostraram-se mais antigos, com até cerca de 12 m.a. . Aparentemente, os derrames dc nefelina-basanito são contemporâneos ao ciclo vulcânico da Formação Remédios, e os derrames ankaratríticos da Formação Quixaba lhes são posteriores, dando idades entre 6,3 e 1,7 m.a. As ilhotas do arquipélago dos Abrolhos representam os remanescentes, acima do nível do mar, de edifício vulcânico que se formou na plataforma continental. Algumas de suas rochas, de natureza basáltica, foram datadas com resultados entre 52 e 42 m. a., do Eoceno. Estas atividades são referentes às últimas fases do ciclo vulcânico, que se iniciou pelo menos no Cretáceo superior, como parecem indicar as evidências paleontológicas . Foram datadas também (neste trabalho, ou em pesquisas anteriores) diversas rochas do continente, próximas do litoral, associadas a atividades ígneas pós-paleozóicas, de caráter anorogênico, e essencialmente ligadas a fraturas na crosta. Verificou-se que as atividades basálticas das bacias do Paraná e do Parnaíba tiveram sua fase principal no Cretáceo inferior. As idades das rochas alcalinas do Brasil meridional, das rochas ígneas do Cabo Santo Agostinho, de diversas rochas básicas do nordeste brasileiro, da rocha fonolítica de Mecejana, e da rocha basáltica de Caravelas indicaram atividades magmáticas contínuas ao longo da costa brasileira, desde o Cretáceo inferior até pelo menos o fim do Terciário. As idades mais antigas encontradas nos edifícios vulcânicos do Atlântico Sul, podendo representar em alguns casos idades próximas do início das atividades vulcânicas, são sempre consistentes com a hipótese do crescimento do assoalho oceânico. Os dados geocronológicos no Atlântico Sul, assim como em rochas ígneas da costa brasileira, não contrariam a Teoria da Deriva Continental, embora não possam ser considerados definitivos para a sua comprovação, e permitem sugerir o início da abertura do Atlântico Sul, a partir do Jurássico.