O artigo busca lançar algumas luzes sobre a construção do laboratório de Manguinhos, recontando um de seus episódios precursores: a viagem a Santos empreendida em 1899 por Oswaldo Cruz, um jovem médico às vésperas de tornar-se herói nacional enquanto símbolo brasileiro da ciência. Destinada a confirmar a chegada pela primeira vez da famigerada peste bubônica em terras brasileiras, a viagem constituiria um marco na justificação da construção de uma fábrica de soro antipestoso no Rio de Janeiro, o futuro Instituto Soroterápico Federal, inaugurado em 1900 e no qual viria a ser instalado o embrião do laboratório de Manguinhos. A partir de quatro narrativas distintas, é possível verificar o processo de ‘criação do mundo’ através do qual cada uma delas realiza sua própria expansão do que seria aparentemente uma ‘mesma’ viagem, permitindo assim configurar a historicidade desses relatos.